“Para mim é uma missão, pois quem não tem amor não fica na APAE”

Ditinha1Benedita Morelli Franci conhecida como Professora Ditinha, é diretora da APAE, (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais). Ela é uma apaixonada pela profissão de professora. Já foi vereadora e diz que hoje a razão de sua vida são as crianças da APAE. Nesta entrevista, Ditinha conta sobre os desafios da entidade na cidade, e do trabalho realizado com crianças com necessidades especiais.

Transcrito do Jornal Alternativa nº361 de 28de maio de 201 – Fotos Nilton Ramos

“Agradeça a Deus se tiver um filho especial. Deus só dá uma criança especial para uma família especial”


Como iniciou sua trajetória de vida em Itapevi?

Estou em Itapevi desde 1969. Sou casada e tenho três filhos já adultos. Meu marido trabalhava em Santos, e eu morava em São Vicente, mas ele foi transferido para São Paulo, e minha cunhada morava em Itapevi. E por incentivo dela acabei vindo para cá. Mas também porque sou professora, e havia facilidade em conseguir aulas aqui na região. Em 1970 houve uma avalanche de novas escolas e abriram muitas vagas para professores. Então eu comecei dando aula em São João Novo. Mas já me simpatizava com a cidade mesmo antes de vir morar aqui. Como eu dava aula em São Vicente, para poder vir para Itapevi eu precisava arrumar algo na cidade. Nã época o prefeito era o Romeu Manfrinato, e eu consegui vir para cá como presidente do Mobral, que fazia a educação de jevens e adultos naquela época.

Então a senhora fez uma carreira como professora na cidade?

Sim, essa foi minha vida em Itapevi. Dei aulas em vários colégios, mas o que me marcou muito foi o Rondon, que é minha escola do coração. Lá eu fiquei oito anos. Depois comecei a dar aulas no magistério, e fiquei muito conhecida entre os alunos. Eu dava uma aula bem moderna. Lecionava Língua Portuguesa, mas nas aulas eu utilizava muito o teatro e a música como elementos de aprendizado. Então, muitas das dificuldades com gramática, como conjunções, preposições, etc, eu colocava música, pois sabia que com música eles aprendiam na hora. Com isso fui criando uma laço muito forte entre mim e os alunos.

A senhora já foi vereadora em Itapevi. Como foi a entrada na política?

Com essa dinâmica das aulas eu fiquei muito popular. Saia com os alunos para atividades externas, jogos, organizava festas nas escolas. Até que alguns partidos políticos começaram a me convidar para ser candidata. A principio eu não queria, porque eu tinha um preconceito contra políticos que você nem imagina. Achava que na política só havia coisas ruins, e hoje sei que muita gente ainda pensa assim, mas é bobagem, porque como em todas as áreas, na política tem pessoas boas e pessoas ruins. Eu entendi que a política é essencial. Mas considero que minha vida política foi um acidente de percurso, porque eu neguei o primeiro convite, neguei o segundo, aceitei o terceiro mas depois retirei a candidatura.

E quando aceitou foi eleita na primeira candidatura?

Sim, eu ganhei e fui a quarta mais votada do município. Mas foi muito difícil o meu trabalho, porque eu achava que iria poder fazer muitas coisas, mas vereador não faz, ele pede, solicita, legisla, ele busca recursos. Vereador não executa, e como eu era de oposição, eu tive muita dificuldade.

A Sra. também se candidatou à prefeitura?

Aproveitando a visibilidade pública e o fato de ser conhecida por muitas pessoas, eu ganhei uma convenção do PMDB em Itapevi, derrotando os figurões do partido na cidade e lancei minha candidatura. Mas a gente não conseguiu porque não tinhamos dinheiro e muitas dobradinhas eu não aceitei por serem contra a minha vontade. Se tivesse saído como vereadora teria ganhado. Depois sai mais uma vez e não ganhei, então não sai mais.

Com foi sua entrada na APAE?

Eu já estava nesse movimento dos professores e eu comecei a participar muito do Lyons Club. Meu marido foi oito vezes presidente do Lyons. E quem assume a presidência trabalha muito, pois tem muitas atividades. Fizemos muitas ações por meio do Lyons, com eventos que trouxeram várias atividades. E nesse movimento fizemos muitas ações na APAE. E quando a APAE foi fundada,

e a Inês foi uma grande batalhadora para trazer uma unidade à cidade, ela teve um filho, e por necessidade de atender esse filho ela batalhou para fundar a APAE, e ela nos procurou para apoiarmos. E nós nos unimos, e naquela época eu já fui vice presidente. Não tínhamos ajuda, foi complicado no início, então organizávamos jantares com empresários, almoços, desfile de modas, eventos de diversos tipos e assim nós fomos crescendo. A gente foi ajudando e assim eu fui tomando cada vez mais gosto pelo trabalho.

Quais foram os desafios para implementar o projeto em Itapevi?

No início não tínhamos alunos. Mas não por não haverem crianças que necessitavam do atendimento, mas porque antes esses casos ficavam no ostracismo. As famílias não entendiam a necessidade de um atendimento especial, e muitas crianças sequer saiam de casa. Haviam um preconceito muito grande, inclusive de parentes. Então fomos descobrindo e mapeando os casos na cidade. Fomos realizando alguns atendimentos, a princípio com crianças que tinham dificuldade de aprendizado, e nós identificávamos se era somente uma dificuldade ou se havia uma deficiência que limitava esse aprendizado. Aí começou esse vínculo que tenho com a APAE.

E quando era vereadora conseguiu dar mais apoio à entidade?

Quando eu era vereadora eu fiz uma coisa, que eu não tenho vergonha de contar, porque os fins justificam os meios. Era uma dificuldade tremenda, até hoje é em Itapevi conseguir recursos. Na época o Reinaldo era um dos vereadores, e o Chico Fernandes iria se tornar presidente da Câmara. E o Chico veio falar comigo, mas claro que eu não iria votar no Chico. Aí eu conversei com o Reinaldo e a gente resolveu fazer uma proposta. Se ele desse o carro da Câmara para a APAE, a gente votaria nele. Era um opala na época, e ele disse: eu dou o carro. E ele deu, e aí foi a luta para sair vendendo rifa para rifar o carro.

Quando assumiu a APAE?

Nós fomos trabalhando dessa forma, eu sempre ao lado da Inês apoiando e etc. Até que chegou um dia, ela me ligou e disse que eu teria que assumir a instituição. Eu já era formada em pedagogia, já era professora. Ela me pediu tanto que eu acabei aceitando. E estou aqui há muitos anos, trabalhando. Mas eu era uma presidente diferente de todos os outros, porque eu ficava aqui o dia inteiro. Fazia o trabalho de presidente, de diretora, e de coordenadora pedagógica, e por muitos anos eu fiz esse trabalho aqui, como voluntária. E quando eu me aposentei em 1990 eu abracei de vez. Em 1993 eu voltei a dar aula, mas sempre preocupada em continuar o trabalho. Eu costumo dizer que trabalhar na APAE é uma missão que Deus colocou na minha vida, porque sem amor ninguém fica na APAE.

A Senhora já recebeu prêmios por educadora. Como se sente com esse reconhecimento?

Eu amo a minha profissão, me orgulho de ser professora. Ser professora para mim é como subir em um palco e representar. Sempre tive o carinho e reconhecimento dos alunos. Dia 12 de maio eu completei 79 anos de idade, e posso dizer que a APAE é meu elixir da juventude. Nunca imaginei que eu amaria essas crianças como eu amo hoje. Eles são tudo na minha vida. Eu quando dou bronca é como mãe, e eles me deu vida, criei meus filhos, me deu trabalho, é uma terra abençoada, e não sairia daqui por nada nesse mundo.

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Que mensagem deixa para as pessoas que tem um filho excepcional?

Agradeça a Deus o privilégio de ter um filho especial. Se Deus confiou para que esses pais cuidassem, é porque só se dá uma criança especial para uma família especial. Uma pessoa que cuida de uma criança assim, é porque tem muito amor. Eu sempre falo que nunca peguei uma criança para criar, mas se um dia aparecer uma criança e for especial eu adoto.

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