A assinatura da nova ficha de filiação acontecerá durante o Congresso Municipal do PT Municipal, convocado para eleger delegados ao Congresso Estadual e ao 3º Congresso Nacional, que definirão os novos rumos do partido. No encontro municipal, serão discutidos os temas “Socialismo Petista”, “O Brasil que Queremos”; e “PT – Concepção e Funcionamento” (que no convite distribuído saiu escrito erroneamente “PT – Concepção e Funcionalismo”).
Porém, o brilho da festa está sendo empanado, pois o retorno de Ruth Banholzer ao PT já provocou um “racha”. Em protesto contra a refiliação, cerca de 30 militantes da esquerda do partido — liderados por Sílvio Márcio Oliveira, estudante de História e secretário-geral da Executiva Municipal — anunciaram esta semana que estão abandonando o PT para filiar-se ao PSOL (Partido Socialismo e Liberdade). O grupo pretende lançar candidatos próprios a prefeito e a vereador nas eleições de 2008.
“A prefeita retorna ao partido novamente pela porta dos fundos”, afirmam os dissidentes, no manifesto “Por que deixamos o PT” (leia abaixo), divulgado esta semana, com críticas contundentes à direção do PT e à prefeita Ruth Banholzer, afirmando que “o grupo ao qual ela pertence se compara à mais deplorável escória política de Itapevi”.
O único vereador do PT, Sebastião Teixeira de Matos, o Tião Matos, disse ao Itapevi Agora que fará questão de discursar na solenidade de hoje, dando boas-vindas à prefeita Ruth. Mas antecipou que lamentará a forma como ela retornou ao partido:
“Foi esquisito o jeito como ela voltou, pois no PT não é a cúpula que decide, mas a militância. Não participei da reunião da Executiva que discutiu a questão e a reunião do Diretório foi apenas para comunicar, não para discutir. A prefeita pretende disputar a reeleição, mas vou disputar as prévias, inclusive porque já anunciei que sou candidato”, disse o líder do PT.
A decisão foi comunicada nos últimos dias ao presidente municipal do PT, ex-vereador Fláudio Azevedo Limas, e ao advogado Dárcio Paupério Sérgio, membro do Diretório Municipal e assessor político da prefeita Ruth Banholzer.
Amanhã (domingo, 24), os dissidente já se reúnem na Churrascaria do Ché, na rua Joaquim Nunes (Centro), com o deputado federal Ivan Valente e um membro da Executiva estadual do PSOL, para discutir a formação da Comissão Provisória Municipal. Eles deverão entregar ao PT seus pedidos de desfiliação no início da próxima semana.
No manifesto, o grupo afirma que, ao aceitar a refiliação da prefeita Ruth Banholzer “de forma equivocada e sem prévia consulta à sua base de militantes e filiados”, o PT de Itapevi cometeu um “gesto de puro oportunismo e leviandade”. E acrescenta: “A prefeita retorna ao partido novamente pela porta dos fundos, descaracterizando desta forma o brio e a luta de muitos companheiros da esquerda do partido, (…) tornando o PT irreconhecível perante o imaginário popular que criou desde sua fundação”.
“O PT de Itapevi, com a vinda de Ruth Banholzer, será sem sombra de dúvidas uma grande máquina eleitoral, mas os erros capciosos cometidos pelo atual Diretório e seu grupo dominante já não colocam o partido como instrumento da mudança a favor da população carente de Itapevi”, prossegue o texto.
“Portanto, a vinda de Dra. Ruth ao partido finda de forma melancólica todo um projeto tático e programático do PT na cidade, tendo em vista que o grupo ao qual ela pertence se compara à mais deplorável escória política de Itapevi, e o PT local, ao tomar tal rumo, estará eivado pelo tumor anacrônico e retrógrado da direita na cidade”.
A difícil convivência de Ruth Banholzer com os partidos políticos
Entre idas e vindas, esta é a sexta mudança de partido da atual prefeita Maria Ruth Banholzer, em seus 14 anos de carreira política: ela começou no PDT, passou pelo PSDB, quase se filiou ao PFL, foi para o PPS, entrou no PT, voltou para o PPS, está sem partido desde setembro de 2006 e agora retorna ao PT.
Ruth Banholzer, que morava em Alphaville e era médica da Prefeitura de Itapevi, iniciou sua carreira política em 1992. Demitida pelo então prefeito Jurandir Salvarani por questões políticas, entrou para PDT e elegeu-se vereadora no grupo de João Caramez, eleito prefeito na mesma eleição.
Em 1994, acompanhou Caramez e ingressou no PSDB. Reelegeu-se pelo mesmo partido em 1996. Três anos depois, rompeu com Caramez, que tinha sido eleito deputado estadual em 1996.
Em setembro de 1999, já planejando sua candidatura a prefeita no ano seguinte, chegou a ensaiar o ingresso no PFL, mas acabou filiando-se ao PPS.
Nas eleições municipais de 2000, Ruth Banholzer aliou-se ao PT, que indicou Jaci Pinheiro da Silva como vice de sua chapa. Com a amizade consolidada durante a campanha, Jaci tornou-se o mais fiel escudeiro de Ruth dentro do PT, quando ela passou a ser combatida pela ala majoritária do Diretório, até hoje controlado pelo grupo do ex-vereador Fláudio Azevedo Limas e do advogado Dárcio Paupério Sérgio. Há pouco mais de um mês, Dárcio é assessor político da prefeita Ruth.
Em 7 de junho de 2001, a convite de Jaci Pinheiro, então presidente municipal do PT, Ruth Banholzer filiou-se ao partido. Foi contra a vontade de Fláudio (então vereador) e Dárcio, que incumbiram o vereador Anulino Pedro Batista Neto, o Lino, de discursar contra a filiação. Lino acusou Ruth de ser uma “política aventureira” e citou sua antiga vinculação com o ex-prefeito Jurandir Salvarani (que, fiel malufista, continua filiado ao PP, antigo PDS), atual secretário municipal de Governo.
Em 2002, Ruth foi candidata a deputada estadual e Fláudio a federal, ambos visando projetar seus nomes para as eleições municipais de 2004. Durante a campanha, foi muito criticada por Fláudio, por contrariar a orientação do PT, fazendo dobradinhas com candidatos de outras legendas.
A principal dobradinha de Ruth foi com candidato a deputado federal Luiz Antônio de Medeiros, do PL, que rompeu com ela alguns anos depois, por motivos desconhecidos. O material de campanha omitia o nome do candidato a governador do PT, José Genoíno Neto.
Nessa eleição, ela fez material de campanha também com o candidato a federal Cláudio Magrão (PPS), Ciro Gomes (PPS) para a Presidência (e não Lula, do PT) e Quércia (PMDB) para o Senado (e não o petista Aloízio Mercadante).
Em 2003, com a assessoria do ex-vereador Pedro Jorge Moreira Nery, o Pepé, Ruth tentou fazer uma campanha de filiação em massa no PT, com o objetivo de ganhar a prévia eleitoral que escolheria o candidato a prefeito nas eleições de 2004.
Fláudio conseguiu barrar a campanha, segurando fichas de filiação. Na noite de 23 de maio de 2003, pouco antes de uma reunião que discutiria as pré-candidaturas (dela e de Fláudio) e encaminharia a realização da prévia, Ruth apresentou abruptamente ao partido seu pedido de desfiliação.
A disputa causou um “racha” no partido. No final de junho, o grupo autodenominado “Democracia Participativa de Base e Luta” saiu em defesa de Ruth Banholzer, chamando a direção municipal do partido de “oportunista”. A resposta oficial foi dada por Dárcio, então secretário-geral, que chamou o grupo de “fascista”.
Em setembro de 2003, ela voltou para o PPS. Nas eleições de 2004, o candidato do PT, Fláudio, criticava ferozmente Ruth e continuou a criticá-la até o final do ano passado, inclusive no Diretório Estadual. Hoje são aliados.
Como retribuição ao apoio das eleições de 2002, o deputado federal Cláudio Ma-grão (PPS) apoiou a candidatura de Ruth. Após sua eleição, continuou dando-lhe apoio, trazendo alguns projetos para Itapevi. Mas não teve reciprocidade em 2006, quando candidatou-se à reeleição. Na reta final da campanha, Ruth saiu do PPS para não ter que apoiar nomes do partido.
Em maio, Magrão desabafou ao jornal “Visão Oeste”, de Osasco: “Ela é ingrata. Apoiou em Itapevi uma pessoa de outro partido, o Vadão Gomes (PP). Isso vai ter um reflexo muito grande na reeleição dela. Já está na metade do mandato e até agora não vi nada pela cidade de Itapevi”.
Em 2006, a prefeita Ruth Banholzer frustrou também os candidatos a deputado federal Gilberto Nascimento (PMDB) e Silvinho Peccioli (PFL, atual DEM), a quem pro-metara apoio eleitoral.
O manifesto dos dissidentes
Por que saímos do PT?
Prezados(a) companheiros (as):
É com imenso pesar e uma iminente decepção que comunicamos nossa desfiliação do PT e o nosso ingresso ao PSOL (Partido Socialismo e Liberdade). Confessamos que não foi uma escolha tão simples, tendo em vista que, durante muitos anos filiados ao PT de Itapevi, travamos muitas lutas, muitas conquistas e também muitas lágrimas, que em nada subjugaram nosso compromisso perene com o partido na cidade.
Entretanto, devemos saber o momento de lutar e também devemos saber o momento de enrolarmos a bandeira desgastada de um projeto e substituí-la por uma outra mais transparente, mais imponente e mais altiva, pois a vida política não é feita apenas de sonhos e desilusões, mas também de muito amadurecimento e de projeções visando um futuro melhor.
O real motivo que nos fez tomar tão amarga decisão se baseia na alternância de princípios estabelecidos pelo PT de Itapevi, que colocou sua coerência e a história política do partido na cidade em xeque, ao aceitar de forma equivocada e sem prévia consulta à sua base de militantes e filiados a refiliação da atual prefeita de Itapevi, Ruth Banholzer.
Num gesto de puro oportunismo e leviandade, a prefeita retorna ao partido novamente pelas portas dos fundos, descaracterizando desta forma o brio e a luta de muitos companheiros da esquerda do partido, que sempre ajudaram de forma incisiva a solidez do PT na cidade e tornando o PT irreconhecível perante o imaginário popular que criou desde sua fundação.
O PT de Itapevi, com a vinda de Ruth Banholzer, será sem sombra de dúvidas uma grande máquina eleitoral na cidade, mas os erros capciosos cometidos e feitos pelo atual Diretório e seu grupo dominante já não colocam o partido como instrumento da mudança a favor da população carente de Itapevi.
Isto tendo em vista que o projeto que o PT de Itapevi passa a objetivar de agora em diante, com a vinda de Ruth Banholzer, é um projeto de poder alavancado pelos percalços cometidos pela atual administração, que se identifica mais como um projeto de continuidade em relação aos governos anteriores do PSDB e não de superação das mazelas do povo de Itapevi, como nós sempre defendemos.
Portanto, a vinda de Dra. Ruth ao partido finda de forma melancólica todo um projeto tático e programático do PT na cidade, tendo em vista que o grupo ao qual ela pertence se compara à mais deplorável escória da política de Itapevi, e o PT local ao tomar tal rumo estará eivado pelo tumor anacrônico e retrógrado da direita na cidade.
Tumor este que, aliás, já eivou o Palácio do Planalto, visto que o governo Lula também já não representa mais nossos anseios de alternância de propósitos socialistas, uma vez que foi o próprio Lula que disse a pouco tempo atrás que nunca foi de esquerda, o que prova que não há mais esperanças na proposta petista nem a âmbito nacional, estadual e agora tampouco no plano municipal.
Porém nossa saída do PT de Itapevi não sinaliza que não haja lutadores sociais e socialistas no PT, muito pelo contrário, há muitos. E com certeza caminharemos juntos nas lutas sociais, no movimento popular e certamente no combate e na oposição a este governo municipal que tanto prejudica nossa cidade.
Àqueles que pensam que estamos saindo do partido para não enfrentarmos a cúpula que criou tal crise, informamos que, na verdade nosso gesto foi bem maleável, pois escolhemos o caminho mais tortuoso, porém mais coerente com nossa história de lutas dentro do partido e principalmente com nossas convicções de esquerda, uma vez que seria bem mais fácil ficarmos no PT de Itapevi e sermos cooptados com cargos na Prefeitura. Porém preferimos continuar nosso caminho, valorizando o que de mais rico conquistamos nestes anos de luta: nosso ideal socialista!
A refiliação de Ruth Banholzer ao PT de Itapevi mostra que de certa forma fomos derrotados, não só nós da esquerda, mas o povo de Itapevi em geral. Mas, diante desta enorme derrota não podemos sucumbir, pois nossos ideais ainda não cessaram! Muitas foram as vitórias e é preciso seguir nossa caminhada.
E foi justamente para a continuidade a esta caminhada em Itapevi que decidimos sair do PT, levando conosco militantes e dirigentes dos movimentos popular, estudantil e sindical, trabalhadores e trabalhadoras que junto conosco estarão construindo uma nova alternativa política em Itapevi, um novo projeto onde os valores coletivos terão primazia e a discussão e decisão terão sempre o cunho democrático e austero, coisa que hoje no PT de Itapevi não impera mais.
Apesar de tudo, guardaremos com carinho a estrela vermelha do PT, que simbolizou todo este nosso ciclo de lutas e esperanças, pois ela faz parte de nossa História e da de milhões de brasileiros que ainda sonham em mudar Itapevi e o Brasil.
Contamos com todos os verdadeiros homens e mulheres que queiram construir um partido de lutas, de massas e de militância austera e incisiva.
Um abraço a todos os companheiros e companheiras.
Assinam este manifesto, entre outros: Sílvio Márcio Oliveira (secretário-geral da Executiva do PT de Itapevi); Eloíse Helena (membro da Executiva do PT de Itapevi), Cíntia Belchior (membro do Diretório do PT de Itapevi), João de Lima Machado (presidente da Atai – Associação do Transporte Alternativo de Itapevi); Alex Bonfim (liderança da CDHU); Rodolfo Neves (Movimento Estudantil); Marta Helena Jarandia (socióloga); Borges (Sindicato dos Comerciários); Yamara Seles (militante do MST); Jacqueline Ribeiro (militante); Elias Raposo (militante); e Emerson Jarandia (estudante).