“O Sofrimento do Hipócrita”

Fogos1Poucas pessoas comemoraram a votação ocorrida na última quarta-feira, 23, no STF (Superior Tribunal Federal), que decidiu anular a Lei Ficha Limpa para as eleições de 2010. Diria que trinta e poucas pessoas que carregam em seus currículos a marca da corrupção ou um outro Boletim de Ocorrência de igual ou maior gravidade.

Na noite de sábado, 26, fui surpreendido com um verdadeiro show pirotécnico de frente à minha casa. Tudo indica que tenha sido obra de um certo deputado desafeto da cidade de Itapevi que, feliz por ter sido “poupado” pela (in)Justiça brasileira, que colocou as tais dezenas de bandidos ocupando cadeiras legislativas, resolveu comemorar “homenageando” a imprensa com fogos de artifício.

A barulheira e o incômodo, tanto meu como de meus vizinhos, se fez com um aparato de nada menos que 144 tiros de rojão ou seja duas baterias.

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Fica aqui um manifesto pela indignação e o recado sempre verdadeiro que diz: quem ri por último, ri melhor, nobre deputado. Uma ficha tão suja não se limpa da noite para o dia, e nos próximos pleitos, tanto o senhor como a corja de seus caros colegas, ão de arcar com suas irresponsabilidades para com o erário.

Seleciono um texto de Victor Hugo que ilustra bem o tipo de caráter de alguns que se intitulam representantes da classe política, mas que infelizmente sujam o nome de nossa cidade no Legislativo Estadual.

 

“O Sofrimento do Hipócrita”

 

“Ter mentido é ter sofrido. 0 hipócrita é um paciente na dupla acepção da palavra; calcula um triunfo e sofre um suplício.

A premeditação indefinida de uma ação ruim, acompanhada por doses de austeridade, a infâmia interior temperada de excelente reputação, enganar continuadamente, não ser jamais quem é, fazer ilusão, é uma fadiga.

Compor a candura com todos os elementos negros que trabalham no cérebro, querer devorar os que o veneram, acariciar, reter-se, reprimir-se, estar sempre alerta, espiar constantemente, compor o rosto do crime latente, fazer da disformidade uma beleza, fabricar uma perfeição com a perversidade, fazer cócegas com o punhal, por açúcar no veneno, velar na franqueza do gesto e na música da voz, não ter o próprio olhar, nada mais difícil, nada mais doloroso.

O odioso da hipocrisia começa obscuramente no hipócrita. Causa náuseas beber perpétuamente  a impostura. A meiguice com que a astúcia disfarça a malvadez repugna ao malvado, continuamente obrigado a trazer essa mistura na boca, e há momentos de enjôo em que o hipócrita vomita quase o seu pensamento.

Engolir essa saliva é coisa horrível. Ajuntai a isto o profundo orgulho. Existem horas estranhas em que o hipócrita se estima. Há um eu desmedido no impostor.  O verme resvala como o dragão e como ele retesa-se e levanta-se.

O traidor não é mais que um déspota tolhido que não pode fazer a sua vontade senão resignando-se ao segundo papel. É a mesquinhez capaz da enormidade.

O hipócrita é um titã-anão”.

Poema de Victor Hugo

 

 

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