Meninas de Itapevi e Jandira se prostituem no Ceagesp

ceagesp3-7159871Fonte – Jornal da Tarde

O grande número de prostitutas adolescentes, algumas ainda crianças, na área da Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp), na zona oeste, fez a Prefeitura e a empresa firmarem um convênio para instalar uma base com agentes que combaterão a prática. Cerca de 50 mil pessoas circulam diariamente pelo entreposto e imediações. O termo de cooperação será assinado amanhã.

O Jornal da Tarde esteve por uma madrugada da semana passada na Ceagesp e encontrou nos 760 mil m², entre o forte cheiro de temperos, frutas, peixes e o colorido das flores, um mundo de crianças vítimas de exploração sexual. São cerca de 30, segundo as próprias garotas, a mais nova com 9 anos. Um programa custa, em média, R$ 30.

O desafio dos agentes de proteção que trabalharão na base no entreposto será estabelecer vínculos com essas meninas para resgatá-las da situação de exploração e violência em que se encontram.

Só que essas garotas não se sentem exploradas. Dizem que estão trabalhando para sobreviver e muitas têm o aval da família. “Futuro? Nunca penso nisso, não tenho planos. Quero o meu dinheiro hoje para sustentar a minha filha e comprar minhas coisas”, diz C., de 16 anos, mãe de uma menina de 2, que parou de estudar na 5ª série. Assim como a maioria de suas colegas de trabalho, ela leva para casa hortifrútis que ficam no chão da Ceagesp.

Algumas meninas contam que se prostituíram como conseqüência do trabalho de “muambar”. Levadas pela mãe ou por vizinhas quando pequenas, elas ajudam a catar sobras. “A gente vinha com a nossa mãe para pegar comida e aí os caras falavam que davam R$ 30 para fazer sexo. É bem mais fácil assim, né?”, diz P., de 14 anos, e dois abortos este ano. Ela se prostitui na Ceagesp com três irmãs, a menor com 9 anos, e tem outros sete irmãos.

Segundo as garotas, os clientes não são apenas os caminhoneiros, mas também permissionários, funcionários e ajudantes. “Meu primeiro programa foi com um dono de boxe que me ofereceu R$ 30. Na época, tinha 12 anos e vendia balas. É o pai da minha filha e engravidou ao mesmo tempo a minha melhor amiga. Nunca assumiu”, diz P.

A maior parte das meninas mora em Jandira e em Itapevi, na Grande São Paulo. Há também garotas das favelas vizinhas à Ceagesp. As que vêm de outros municípios são atraídas pelo acesso fácil, já que há uma estação da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos em frente a um dos portões do entreposto.

Oficialmente, a Ceagesp proíbe a entrada de menores sozinhos. Mas, como freqüentam o local há muitos anos, as garotas são conhecidas e têm acesso facilitado por quem trabalha na área.

Das 16h às 21h, elas ficam na Ceagesp e, depois desse horário, vão fazer ponto nas ruas próximas. Por volta da 1h, retornam por conta do movimento das feiras. As sextas-feiras e os dias 10, quando os “clientes” recebem o salário, são mais movimentados. Na madrugada, muitas tomam banho nos banheiros do entreposto. Pagam R$ 1,50. “Ficam aquelas meninas usando droga. Denunciar resolve? E para quem denunciamos, se as mães concordam?”, diz uma funcionária.

No meio desse mundo, as meninas têm apoio na figura de uma ex-prostituta, de 43 anos, que fez programas no local na adolescência e agora aconselha as jovens a sair dessa vida. Ela vive de recolher alimentos e vender. Para ela, um programa social não é o suficiente para transformar a vida das garotas. “É preciso punir as mães. Sabem o que as filhas fazem e aceitam ser sustentadas por esse dinheiro.”

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