Fotos-Nilton Ramos
Luciana, que mora no local há 25 anos, ainda tem sorte, ela mora na parte de baixo do morro e consegue sair do bairro com mais facilidade. Já Regiane de Jesus Santos, que mora na parte de cima da rua, sofre todos os dias para subir até sua casa ou descer para o centro da cidade. “É uma dificuldade, no mês passado, desci a rua para buscar minha filha na escola, escorreguei, fiquei toda ralada e suja de lama. Tive que ir até a escola Bemvindo (na Cohab), mesmo assim, não podia deixar minha filha de oito anos me esperando lá sozinha, até que eu subisse novamente à minha casa para trocar de roupa”, disse a moradora do bairro, há mais de 13 anos.
Os buracos e a erosão fizeram com que há quase um mês os moradores que têm carro sejam obrigados a deixar seus veículos estacionados no pé do morro ou na rua de cima, onde os buracos são menores e ainda permitem o trânsito de automóveis. “E um absurdo, temos garagem nas nossas casas, mas não podemos estacionar nossos carros em segurança a noite inteira, porque não conseguimos dirigir pela rua”, disse Adonias Rodrigues. Segundo ele, há poucas semanas, seu irmão não conseguiu controlar o veículo e ele caiu num buraco. “Além de todo o problema para tirá-lo do buraco, ele ainda teve que gastar mais de R$ 500,00 com o conserto. Agora, ele está indo para o trabalho de ônibus”, completa.
“A gente já virou motivo de piada dos comerciantes da cidade. Quando vamos comprar alguma coisa que precisa ser entregue, eles dizem ‘ah, na rua do buraco a gente não vai não’. Isso é muito humilhante. Nós pagamos impostos. Vamos até a prefeitura, pedimos ajuda e ninguém nos atende. Parece que estamos mendigando e não exigindo aquilo a que temos direito”, desabafou Luciana.
Segundo ela, além da falta de segurança da rua, as fortes enxurradas que descem pela via, devastam as casas, porque não há guias nem sarjetas para reduzir a intensidade das águas. “A sujeira invade nossas casas, o barro se acumula e não tem limpeza que dê jeito. É um trabalho sem fim. Limpamos e depois começa tudo de novo, depois da água, temos que lidar com o barro. Não acaba nunca e nossas crianças sofrem com isso. Às vezes é desesperador”, completou.
Lixo
Além de todos os problemas enfrentados, entregas que não podem ser feitas, ambulâncias que não chegam e carros que não sobem, o mais agravante é que a rua não tem recebido o caminhão da coleta do lixo. “Tem sido difícil, aqueles moradores que têm mais consciência, descem com o lixo até a rua de baixo e o deixa amontoado num canto, para que o caminhão faça a coleta. Mas nem todos são assim. Tem gente que está jogando o lixo nos terrenos baldios ou então simplesmente deixa na rua. E a cada chuva o lixo se espalha e leva sujeira e doenças para todos os lados”, explica Marcellino.
Teresinha de Jesus de Oliveira Proença, que mora na rua Praia do Cumbucu, paralela à Baraqueçaba, informou à reportagem que estava vindo da prefeitura, onde conversou com um funcionário e novamente explicou o caso. “Eu moro na outra rua, mas tenho que descer por esta para ir até o ponto de ônibus. Todos os dias de madrugada, às 5 horas, desço por aqui e por causa dos buracos e da lama, carrego um cabo de vassoura para ter mais segurança para descer”, explicou ela.
Segundo Teresinha, o funcionário da Prefeitura ouviu seu caso, imprimiu as fotos da rua que ela tirou pelo celular e disse que após o carnaval, a prefeitura retomaria a obra. “Eu entendo. Mas puxa vida, será que as pessoas não percebem que o que estamos vivendo aqui é um caso de emergência, que não podemos esperar nem mais uma semana sequer?”, questionou ela.
Um morador que estava ao seu lado, durante o desabafo balançou a cabeça e ironizou: “Que emergência? Para eles somos só mais um caso. Nossa rua já foi chamada de Ferroviária, depois de Praia de Baraqueçaba, agora a única providência que eles vão tomar é mudar o nome oficial para ‘Rua do Buraco’ e vai ficar tudo do mesmo jeito. Ah, e no mês que vem chega o carnê o IPTU pra gente pagar!”, disse José Acácio, morador do bairro, há mais de 12 anos.